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A mostrar mensagens de novembro, 2018

Os dias cinzentos

Hoje o dia nasceu triste. Está nublado e chove. Noutra altura seria um dia perfeito. Um dia perfeito para estar em casa com a lareira acesa, enroscada no sofá com uma manta e a ver filmes. Seria um dia perfeito se não estivesse assim. Eu sei (porque mo dizem a toda a hora!) que ter pensamentos positivos é meio caminho andado para a recuperação.  Porém, tem dias - como o de hoje - em que eu não consigo pensar em nada positivo.  É incrível como a nossa mente é tão poderosa e consegue fazer-nos pensar nos piores cenários possíveis. Logicamente que eu sei que se cumprir o tratamento à risca - isto é, se não cair ou tirar o colete - a recuperação é total. É "apenas" um osso partido. Porém, o facto de ser no sítio que é e a gravidade da lesão quando a mesma ocorreu - que podia levar à morte, como sucede na maioria dos casos - faz-me pensar que a cura não será assim tão simples.  Não vos sei explicar ao certo o que sinto. Depois, todos os constrangimentos que estou a pro

Lidar com as limitações no dia-a-dia

Ainda que, felizmente, seja por um período de tempo limitado, a verdade é que neste momento lido diariamente com a minha incapacidade para realizar as mais elementares tarefas. Estar nesta situação tem me feito perceber que - usando um título de um filme - este país não é para pessoas incapacitadas. Por um lado as pessoas não sabem lidar com a diferença. É incrível como a curiosidade torna as pessoas tão desagradáveis e descaradas. É impossível ir a um local público e não me sentir observada ao pormenor.  Para além disso, e mesmo com este "aparato" todo, as pessoas não alteram em nada os seus comportamentos por forma a facilitar a vida a quem tem mobilidade reduzida. Quem me conhece sabe que sempre fui acérrima defensora da existência de prioridade para pessoas efetivamente dela carecidas (por deficiência física, mobilidade reduzida ou gravidez) e agora, nesta situação, apercebo-me que a generalidade das pessoas não tem o mínimo de respeito pelo próximo. Por outro lado,

A primeira consulta

Hoje foi o dia da consulta de acompanhamento. Estava extremamente nervosa porque tinha receio que a fratura estivesse instável, o que é absolutamente disparatado porque se assim fosse eu teria sintomas! Teria dores, falta de força nos membros e até mesmo paralisia.  Fui para o HSM de carro, o que me provocou ainda mais ansiedade. Já tinha andado de carro entretanto mas sempre em curtas distâncias. É estranho como uma coisa tão habitual me provoca tanto desconforto... Antes da consulta fiz um raio-x dado que essa seria a única forma de o médico poder observar o que se passa comigo. O médico - que não devia ter muito mais que a minha idade! - foi espetacular. Deixou-me ver o primeiro raio x e o segundo e explicou pormenorizadamente a fratura. Neste momento - três semanas após o acidente - a fratura está estável, isto é, a vértebra está perfeitamente alinhada com as demais, e começa o processo de consolidação. O colete continua a ser a minha companhia e deverá sê-lo pelo menos a

Viver com o SOMI

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Esqueçam tudo o que (acham que) sabem fazer. Esqueçam lavar os dentes da maneira que lavam todos os dias. Esqueçam a forma como se sentam na sanita todos os dias. Esqueçam a forma como abrem uma gaveta para procurar qualquer coisa lá dentro. Esqueçam a forma como comem. Esqueçam TUDO! Quando usam um colete SOMI deve ser este o "procedimento". O colete é desconfortável e restringe os nossos movimentos - até os mais simples! - ao máximo. Imagem retirada da Internet O colete é o da imagem e visa imobilizar por completo a cabeça através dos apoios na zona occipital e mandibular de forma a que seja impossível, por exemplo, chegar com o queixo ao peito ou com as orelhas aos ombros. O queixo assenta naquele pedaço do aparelho que, embora revestido com tecido, ao fim de um tempo provoca abrasão. O colete é para usar durante todo o dia e durante, pelo menos, 3 meses. Sim, não consigo tomar banho. Sim, vou estar 3 meses sem o fazer. E? Na situação em que estou es

O regresso a casa

No dia 6 de novembro fui informada logo de manhã que teria alta nesse dia e que seguiria para o Hospital da minha zona de residência. Claro que as burocracias inerentes fizeram com que a ambulância só chegasse por volta das 16 horas. À semelhança do que tinha acontecido quando fui transferida para o HSM, fiz a viagem na coquille, sendo que desta vez as bombeiras deviam pensar que estavam a participar numa corrida... Chegada ao Hospital da minha zona de residência deparei-me com um serviço a rebentar pelas costuras. E ali estava eu, dentro da coquille sem me poder mexer. Fui então abordada por um médico que se revelou extremamente mal educado e que queria que eu me levantasse e fosse embora. Assim, sem mais. Deixem-me que vos explique que a maca onde a coquille estava apenas tinha duas alturas: extremamente alta, de modo a que não chegava com os pés ao chão, ou extremamente baixa, encostada ao chão. Para uma pessoa que usava o colete há pouco tempo, que tinha dores e que não sa
No dia 31 acordei bem cedo com o acender das luzes.  Só tive direito a 1 hora de visita e o resto do tempo ali fiquei, com o colarinho no pescoço a olhar para o vazio e a ouvir os barulhos à minha volta. A dada altura vieram ter comigo dizendo que teria que ser submetida a uma cirurgia e que me iam transferir para o serviço de ortopedia. Nesse momento chorei com medo e pânico do que me esperava. No serviço de ortopedia fiquei num quarto com três senhoras, sendo que uma delas se revelou uma excelente companhia. Passei os seguintes dias deitada à espera de novidades. Nesses dias estive sempre deitada, fiz tudo deitada, tudo sempre na mesma posição. Na sexta-feira, dia 2 de novembro, chegou a notícia que afinal não teria que ser submetida a cirurgia. A minha fratura resolver-se-ia com tratamento conservador, isto é, teria que usar um colete e colar cervical. Depois da correria para tentar encontrar um equipamento do meu tamanho, foi altura de o colocar e experimentar sair da c
Quando criei este blog e pensei neste título não imaginava o que me viria a acontecer. 30 de outubro de 2018. 07h40. Esta data nunca mais me vai sair da cabeça. Corresponde àquele que podia ter sido o meu último dia com vida. Para uma pessoa que não é crente, compreender a fina linha que separa a vida da morte é um exercício deveras complicado que me tem ocupado a cabeça. Naquele dia - que seria um dia igual a tantos outros! - saí de casa a uma hora pouco habitual, determinada em por fim a uma série de trabalhos que tinha por fazer. Como sempre, o meu namorado seguia atrás de mim no seu carro, sempre com o intuito de "controlar" a minha velocidade. O percurso foi o mesmo de sempre, sem alterações nenhumas. A dada altura, num sítio por mim conhecido, na tentativa de me desviar de um buraco existente no meio da via - e porque seguiam carros em sentido contrário - aproximei-me da valeta e isso foi o suficiente para perder o controlo do carro. Os instantes que se seguira