Quando criei este blog e pensei neste título não imaginava o que me viria a acontecer.
30 de outubro de 2018.
07h40.
Esta data nunca mais me vai sair da cabeça. Corresponde àquele que podia ter sido o meu último dia com vida.
Para uma pessoa que não é crente, compreender a fina linha que separa a vida da morte é um exercício deveras complicado que me tem ocupado a cabeça.
Naquele dia - que seria um dia igual a tantos outros! - saí de casa a uma hora pouco habitual, determinada em por fim a uma série de trabalhos que tinha por fazer.
Como sempre, o meu namorado seguia atrás de mim no seu carro, sempre com o intuito de "controlar" a minha velocidade.
O percurso foi o mesmo de sempre, sem alterações nenhumas.
A dada altura, num sítio por mim conhecido, na tentativa de me desviar de um buraco existente no meio da via - e porque seguiam carros em sentido contrário - aproximei-me da valeta e isso foi o suficiente para perder o controlo do carro.
Os instantes que se seguiram encontram-se envoltos numa grande neblina. Só me recordo de recuperar os sentidos já após o embate.
O rádio a tocar lá ao fundo. O ar envolto em pó. O vidro do carro partido e a porta entreaberta. O nariz cheio de sangue. Uma dor lancinante no pescoço.
Os vinte minutos que se seguiram até à chegada da ambulância pareceram uma eternidade em que não me pude mexer.

Ao chegar ao Hospital fiz exames e esperei. Esperei e desesperei deitada numa maca sem me poder mexer. Sem saber o que tinha ou o que me iria acontecer.
Eis que chega o resultado dos exames: fratura numa vértebra da coluna cervical. Transferência para o Hospital Santa Maria.
Aí o medo apoderou-se de mim.
O Hospital estava, como sempre, cheio de gente, pelo que fui encaminhada para um local mais reservado onde me rasgaram a roupa e vestiram um pijama de hospital. Tudo sem praticamente me mexer.

Esperei pela ambulância que me levaria para Lisboa. Fui transportada numa coquille, isto é, numa maca de vácuo que permite imobilizar por completo a totalidade do corpo.
A viagem para Lisboa demorou uma eternidade.

Já em Lisboa esperei e desesperei mais um pouco. Pedi medicação para as dores que começavam a aparecer. E esperei e desesperei.

Perto do fim do dia fui chamada para fazer uma TAC com contraste a fim de averiguar o comprometimento das artérias do pescoço.

Concluída a TAC e já na posse do resultado fui finalmente recebida pelo médico ortopedista.

O pior cenário confirmava-se: fratura da vértebra C2 sem comprometimento dos vasos sanguíneos. 
Destino: serviço de observação.

Escusado será dizer que o serviço de observação (o famoso SO) é o local onde se encontram todos os doentes que, por falta de vagas nos respetivos serviços ou em virtude da gravidade do seu problema, necessitam de cuidados contínuos.

Foi a noite mais longa de sempre. As luzes só se apagaram por volta das 23h30 e ali estava eu, completamente sozinha e aterrorizada.
Os velhotes do SO passaram a noite aos gritos e quando as luzes acenderam, por volta das 08h, parecia que não tinha dormido nada.

Continua...

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